O município de Piúma, no litoral Sul do Espírito Santo, enfrenta uma situação preocupante e desafiadora na área da saúde: apenas uma pediatra atende pela Prefeitura, em uma cidade com cerca de 22.300 habitantes, conforme dados do IBGE de 2022.
Pais, na maioria mães, têm que se dirigir de madrugada às unidades de saúde na tentativa de conseguir uma senha para consultar seus filhos, uma tarefa difícil devido ao número restrito de senhas disponíveis.
Uma mãe, que preferiu não se identificar, relatou ter chegado às 4h da madrugada na Unidade Básica de Saúde “João Batista Cândido”, no bairro Céu Azul, um dos mais populosos e carentes do município, para conseguir uma consulta para seu filho. Ela expressou medo de ser assaltada ou sofrer algum abuso sexual devido ao horário.
Michele Alves, mãe de um bebê de 2 meses, está há duas semanas tentando conseguir uma das seis senhas disponibilizadas na unidade. A pediatra atende na unidade do Céu Azul apenas uma vez por semana, das 15h às 16h, e é responsável pelo atendimento em todo o município.
“São seis senhas, tem que chegar cedo, mas mesmo assim não há garantia de que irá conseguir. Crianças recém-nascidas são encaixadas automaticamente, o que limita ainda mais o acesso de crianças a partir de um mês de vida ao atendimento. É triste demais essa realidade e não sabemos o que fazer. Quem tem recurso procura cidades vizinhas, como Iconha, onde uma consulta com pediatra custa cerca de R$ 250,00”, conta Michele.
Dados do Portal da Transparência de Registro Civil mostram que, em 2024, 58 crianças nasceram e foram registradas em Piúma. No ano passado foram 292 registros. Em 2022 foram 293 nascimentos. Já em 2021 foram 317 crianças registradas. Os dados revelam que na cidade existem ao menos 960 crianças com menos de 3 anos de idade.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um médico pediatra para cada cinco mil habitantes, o que não é a realidade de Piúma, que no período de verão tem aumento em sua população flutuante, por conta do turismo.
A Sociedade Brasileira de Pediatria, em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, observou que as crianças que não comparecem ao pediatra até os 3 anos de idade, na quantidade recomendada, possuem duas vezes mais chances de serem hospitalizadas. Esse é um dado importante que alerta para a necessidade do acompanhamento médico regular de crianças.
De modo geral, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que os pais levem o seu filho ao pediatra com determinada frequência até os 18 anos de idade, reduzindo as consultas conforme o desenvolvimento da criança.
A recomendação é que até 30 dias de vida são 3 consultas; De 2 a 6 meses – 1 consulta por mês; A partir dos 7 meses – 1 consulta a cada 2 meses; A partir dos 2 anos – 1 consulta a cada 3 meses; A partir dos 6 anos – 1 consulta por semestre; e dos 7 aos 18 anos – 1 vez por ano.
Apesar dos dados alarmantes, a gestão pública de Piúma parece não tomar medidas para mudar essa realidade.
A reportagem tentou contato com o prefeito Paulo Cola e sua assessoria de imprensa, mas não obteve um posicionamento sobre essa questão tão relevante para a comunidade de Piúma.
A matéria será atualizada assim que houver uma manifestação do Poder Público.